Wilhelm Reich e a Psicanálise

Psicologia: Ciência e Profissão
Print version ISSN 1414-9893
Psicol. cienc. prof. vol.22 no.3 Brasília Sept. 2002

http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000300004 
ARTIGOS


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Uma contribuição à história do movimento psicanalítico: 
a trajetória de Wilhelm Reich





Amadeu de Oliveira Weinmann*

Sociedade Wilhelm Reich - RS

Endereço para correspondência





RESUMO

O artigo propõe-se a reconstituir a trajetória de Wilhelm Reich na história do movimento psicanalítico através da análise de suas contribuições teórico-clínicas e político-institucionais, realizadas no interior desse movimento no período compreendido entre 1920/34.

Palavras-chave: Psicanálise, Análise do caráter, Impotência orgástica, Prevenção de neuroses e revolução sexual.

ABSTRACT

The article intends to reconstitute Wilhelm Reich’s trajectory in the history of the psychoanalytical movement through the analysis of his theoretical, clinical, political and institutional contributions to this movement between 1920/34.

Keywords: Psychoanalysis, Character analysis, Orgasm impotence, Neurosis prevention and sexual revolution.




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Desde seus primórdios, a psicanálise tem-se demonstrado um terreno extremamente fértil para o surgimento de grandes pensadores a respeito da alma humana; sua história, no entanto, revela igualmente uma tendência antropofágica: muitos dos seus melhores membros acabaram “devorados” em meio a acirradas disputas e tiveram seus nomes apagados do desenvolvimento posterior do movimento psicanalítico. Sándor Ferenczi é um desses: Ernest Jones jamais perdoou a Ferenczi o fato de este ter sido o seu analista (Roazen, 1978) e tratou de difamá-lo em sua biografia de Freud, atribuindo suas concepções clínicas inovadoras a um processo de deterioração mental que teria culminado em uma psicose paranóide. Nem Freud escapou desse destino: fez-se necessária a pujança do pensamento de um Jacques Lacan para que sua obra ressurgisse das cinzas com que fora encoberta por psicanalistas ditos pós-freudianos e recuperasse toda a sua vitalidade. Este artigo visa a desfazer a amnésia que se criou em torno da participação de Wilhelm Reich na história do movimento psicanalítico.

Quando Wilhelm Reich (1897/1957) chegou em Viena, em 1918, já havia perdido os pais e a propriedade em que viviam, na fronteira ucraniana do Império Austro-húngaro com o Império Russo (palco constante de batalhas durante a 1ª Guerra Mundial). Bastante interessado pelas Ciências Naturais, ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena. Juntamente com outros colegas (entre os quais, Otto Fenichel), percebe a negligência com que as questões relativas à sexualidade são tratadas na faculdade; fundam, então, o Seminário de Sexologia da Faculdade de Medicina de Viena, que será dirigido por Reich a partir de 1919. No exercício dessa função, Reich entra em contato com Sigmund Freud e fica profundamente impactado com suas concepções a respeito da sexualidade humana. Ainda em 1919, Reich apresenta no seminário de sexologia uma comunicação intitulada O conceito de pulsão e libido de Forel a Jung, onde expõe suas primeiras impressões a respeito da teoria freudiana. No ano seguinte, ainda estudante de medicina, torna-se membro honorário da Sociedade Psicanalítica de Viena, em sessão na qual apresenta seu ensaio Conflitos libidinais e delírios no ‘Peer Gynt’ de Ibsen.

Nos anos seguintes, W. Reich dedicar-se-á a dois problemas cruciais: do ponto de vista teórico, a questão qual a fonte de energia das neuroses? ocupava-o integralmente; de uma perspectiva clínica, procurava responder às demandas que incidiam sobre a psicanálise em um momento em que ela se expandia vigorosamente e começava a atender a uma clientela cada vez mais ampla.

Em 1922, quando foi fundada a Clínica Psicanalítica Pública de Viena, Reich já é reconhecido como um analista talentoso e tem seu nome indicado para ser o primeiro assistente de Freud na clínica (será diretor da mesma entre 1928/30). Nesse mesmo ano, no Congresso Psicanalítico Internacional de Berlim, Freud apresentará um esboço de O ego e o id e lançará a seguinte questão: se as porções mais importantes do ego – as responsáveis pelas operações defensivas – também são inconscientes (como sustenta nesse trabalho), quais as implicações dessa inovação teórica para a técnica da psicanálise? Freud oferecerá um prêmio para o trabalho que melhor dê conta desse problema. Julgando-se ainda pouco experiente para enfrentar o desafio, Reich propõe a Freud a criação de um seminário sobre a técnica dirigido a jovens analistas. Funda-se, então, o Seminário sobre a Técnica Psicanalítica da Clínica de Viena, que será coordenado, inicialmente, pelo diretor desta: Edward Hitschmann (Reich coordenará este seminário entre 1924/30).

O trabalho na Clínica Pública consistia, para os jovens analistas, um desafio formidável. Para ela afluía toda uma população que não usufruiria de um tratamento psíquico em outras circunstâncias. Muitos desses pacientes não possuíam as condições de analisibilidade que Freud postulara. No Congresso de Budapeste, em 1918, quando Sándor Ferenczi e Anton von Freund propuseram a criação de clínicas psicanalíticas públicas para o atendimento da população pobre (Roazen, 1978), Freud (1996 [1919]: p. 181) pronunciara-se no sentido de que talvez, nesses casos, fosse necessário “(...) fundir o ouro puro da análise livre com o cobre da sugestão direta”. Em função da morte de von Freund – seu patrocinador – e dos problemas políticos e econômicos que afetaram a Hungria no pós-guerra, a Clínica de Budapeste não vingou, mas, em 1920, sob a direção de Karl Abraham e Max Eitingon, inaugurou-se a Clínica Psicanalítica Pública de Berlim.

Embora os princípios fundamentais da técnica psicanalítica já estivessem firmemente estabelecidos por Freud em seus artigos técnicos (1911/15), as novas concepções teóricas – apresentadas, especialmente, em Além do princípio do prazer e em O ego e o id –, a maturidade teórico-clínica de alguns discípulos proeminentes – como Sándor Ferenczi e Karl Abraham –, o aumento do interesse de profissionais em obter uma formação analítica e a ampliação social da clientela da psicanálise tornarão efervescentes os debates sobre a técnica nos anos 20. Com o intuito de formalizar o processo de formação de novos analistas, será criado em 1924, sob a coordenação de Helene Deutsch, o Instituto de Treinamento da Sociedade Psicanalítica de Viena (Roazen, 1999).

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No seminário técnico da Clínica de Viena procurava-se discutir, sobretudo, os casos mal sucedidos, investigando-se minuciosamente as razões do insucesso terapêutico. A partir da coordenação de Reich, adotou-se a prática de relatórios sistemáticos; Reich entendia que a técnica específica para cada caso deveria surgir da própria estrutura do caso. Algumas práticas vigentes foram fortemente criticadas. Muitos analistas repreendiam seus pacientes quando estes demonstravam resistência ao tratamento. Para Reich (1994 [1942]: p. 108), “(...) era totalmente inerente aos princípios psicanalíticos o tentar compreender a resistência e eliminá-la por meio de recursos analíticos”, tanto mais agora que se sabia serem as defesas do ego igualmente inconscientes. Outro equívoco comum, denunciado no seminário, era a prática de tentar convencer o cliente da exatidão das interpretações do psicanalista.

Foi ao longo de sua participação no Seminário sobre a Técnica Psicanalítica da Clínica de Viena que Reich amadureceu suas concepções teórico-clínicas, culminando na proposição da técnica de análise do caráter. De acordo com Reich (2001 [1933a]), o desenvolvimento de um tratamento psicanalítico pressupõe a compreensão e o domínio, pelo analista, das resistências iniciais à análise. Estas consistiriam, essencialmente, em uma resistência a estabelecer uma neurose de transferência (à articulação existente entre resistência e transferência, Reich denominou transferência negativa latente). O ponto de vista de Reich era de que as interpretações do analista, especialmente nos momentos iniciais de uma análise, deveriam enfocar, prioritariamente, a dissolução dessas resistências transferenciais, de modo a favorecer que a neurose do paciente fosse sendo colocada, fragmento por fragmento – como propunha Freud (1996 [1914a]) –, no interior do processo analítico.

Reich entendia que o padrão resistencial do paciente estava estreitamente vinculado á sua estrutura de caráter. Freud, em Caráter e erotismo anal (1996 [1908a]), propusera que os traços de caráter mantinham uma relação peculiar – diferente da que ocorria nas produções sintomáticas – com excitações pulsionais parciais. Posteriormente, em O ego e o id, afirmara “(...) que o caráter do ego é um precipitado de catexias objetais abandonadas e que ele contém a história dessas escolhas de objeto” (1996 [1923]: p. 42). Estas duas indicações consistiram nas pedras fundamentais do desenvolvimento de uma caracterologia psicanalítica, que teve em Karl Abraham seu principal expoente (Weinmann e Vitola, 1999). Entretanto, Freud (1996 [1916]) entendia que o enfoque do psicanalista não deveria recair, de modo algum, sobre o caráter do paciente, embora reconhecesse que, por vezes, este se tornava um poderoso obstáculo ao tratamento.

Para que se entenda o conceito reichiano de caráter é necessário compreender as premissas teóricas a partir das quais ele foi construído. Conforme assinalado acima, a questão norteadora da pesquisa teórico-clínica de Wilhelm Reich foi: qual a fonte de energia das neuroses? Reich estava preocupado com o aspecto econômico da metapsicologia freudiana. Entendia que os fatores dinâmicos e tópicos da produção de sintomas haviam sido elucidados por Freud; entretanto, pensava que os destinos das quantidades de excitação, em uma neurose, não estavam suficientemente esclarecidos.

Essa questão conduzirá Reich para os aspectos pulsionais da teoria de Freud, isto é, para as fronteiras somáticas do psíquico. Nos artigos em que diferenciara as neuroses atuais das psico-neuroses (especialmente em 1996 [1895]), Freud propusera que, nas primeiras, as excitações pulsionais (sexuais) seriam “defletidas” da esfera psíquica, não vindo a ligar-se a representações e permanecendo no registro somático; por isto, entendera que as neuroses atuais não possuíam etiologia psíquica, não sendo passíveis, portanto, de tratamento psicanalítico. Por outro lado, nas psiconeuroses as excitações pulsionais haviam alcançado a esfera psíquica, ligando-se a representações ideativas; o processo defensivo denominado recalcamento cindia o sujeito, estabelecendo a vida psíquica inconsciente e engendrando a produção de sintomas – e de outras formações do inconsciente – através do mecanismo de retorno do recalcado. Nesse momento de sua teorização, Freud definirá a angústia como resultante do represamento da excitação sexual: angústia neurótica, ou puramente somática, nas neuroses atuais, e angústia psiconeurótica, decorrente da estase (represamento) de libido, que será superada através da formação de sintomas – por isto, Freud (1996 [1905]: p. 155) dirá que “(...) os sintomas são a atividade sexual dos doentes”.

Partindo dessas considerações freudianas, Reich sustentará que toda psiconeurose possui um “núcleo neurótico atual” – isto é, um quantum (variável, individualmente) de excitação pulsional que não é absorvido psiquicamente e que tampouco é descarregado pela via sexual – responsável pelas manifestações vegetativas de angústia. De acordo com Reich, o pulsional não admitiria a sublimação como via exclusiva de escoamento da excitação, mas exigiria uma parcela de gratificação direta – corpórea –, a fim de aliviar a tensão residual nas zonas erógenas, desfazendo , desse modo, o componente “atual” da neurose. No sujeito psiconeurótico, essa gratificação enlaçaria o outro (conceito freudiano de libido objetal), numa relação mediada pelas vicissitudes da resolução da problemática edípica.

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Na psicopatologia reichiana, a incapacidade de o sujeito se envolver afetiva e sexualmente com um parceiro e de se entregar ao fluxo da excitação, permitindo que esta atinja seu clímax e completo escoamento (fato que implica em uma perda, ainda que momentânea, do controle egóico), será designada impotência orgástica, conceito que visa a responder à questão da fonte de energia das neuroses, sugerindo que a produção de angústia, a constituição dos sintomas psiconeuróticos e a formação do caráter neurótico1 decorreriam, em última análise, da impossibilidade de o sujeito resolver o problema do incremento da excitação (a produção constante de ondas de excitação, a partir de fontes somáticas, fazendo uma exigência de trabalho ao aparelho psíquico, é uma característica essencial da vida pulsional). Nessa perspectiva, a condição psíquica fundamental para a dissolução do represamento da excitação seria a ausência de fixações rígidas em objetos sexuais infantis, isto é, a capacidade de o sujeito efetuar “(...) uma transferência genuína do objeto primitivo para o companheiro” (Reich, 1994 [1942]: p. 100).

Reich cunhou o conceito de neurose de caráter com o intuito de dar conta de situações clínicas em que a resistência ao estabelecimento de uma neurose de transferência parecia decorrer de uma condição psíquica na qual as defesas narcísicas ocupavam lugar destacado. Essas neuroses de caráter difeririam das psiconeuroses clássicas (neuroses histérica, obsessiva e fóbica) por se apresentarem pouco acessíveis à análise. Reich postulará que, enquanto nas psiconeuroses de transferência os sintomas se encontram no lugar de um investimento de libido objetal, funcionando como uma forma de descarga substituta de energia psíquica, nas neuroses de caráter haveria o predomínio de investimentos narcísicos decorrentes de retiradas de amor objetal em direção ao ego. Nessa perspectiva, a função do caráter consistiria em absorver a excitação psíquica represada – a partir de “sinais de angústia” (Freud, 1996 [1926]) –, oferecendo-se como objeto de amor. Disto adviria sua dimensão resistencial à análise: a fim de evitar a angústia, o sujeito neurótico entrincheira-se em seu caráter, estabelecendo com ele uma relação erótica.

A técnica de análise do caráter, de W. Reich, consiste, primeiramente, em um desenvolvimento da técnica de análise das resistências, postulada por Freud e sistematizada no Seminário sobre a Técnica Psicanalítica da Clínica de Viena. Difere desta ao reiterar a importância de o analista compreender e dominar, transferencialmente, o padrão resistencial central – o caráter do paciente – antes de propor interpretações mais contundentes. Além disso, a análise do caráter incluirá, em seu repertório clínico, uma inovação significativa: Reich – e também Ferenczi, separadamente – defenderá, no Congresso Psicanalítico Internacional de Innsbruck (1927), a idéia de que não apenas o conteúdo do discurso dos pacientes consiste em material analítico, mas também a forma dessa comunicação, isto é, os elementos não verbais do discurso (o olhar, o tom de voz, as expressões faciais, o gestual, a postura e os movimentos no divã, etc). Reich entendia que estas manifestações corpóreas consistiam, também, em formações do inconsciente – ou em expressões diretas do que não fora simbolizado (Reich, s/d [1925]) – e, por isto, julgava procedente intervir sobre as mesmas através de assinalamentos e de interpretações.

Em análise do caráter, a dissolução do represamento da excitação – a resolução da impotência orgástica – constitui-se em um objetivo crucial. Nesse sentido, a meta do trabalho analítico não poderia-se reduzir a tornar consciente o material psíquico inconsciente; seria necessário que o afeto associado às representações recalcadas pudesse ser abreagido, a fim de que se desfizesse a condição de estase. Este princípio técnico tem suas origens nas proposições freudianas acerca da função do recalcamento, o qual não apenas torna inconsciente o representante ideativo da pulsão, como o desliga de sua carga afetiva – a qual, livre (não ligada a uma nova representação, cujo acesso à consciência e à motilidade permita um processo de descarga), converte-se em angústia. Para Reich, a cura decorreria da possibilidade de o paciente recordar com afeto suas vivências infantis – elaborando-as em análise.

Embora essas teses não contassem com a simpatia de Freud – sobretudo a ênfase atribuída à necessidade de gratificação direta da pulsão sexual –, foram suas posições políticas revolucionárias o estopim do rompimento ocorrido entre Wilhelm Reich e o movimento psicanalítico (Wagner, 1996). Partindo de Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna – onde Freud (1996 [1908b]) assume uma postura crítica em relação à moral sexual da sociedade de seu tempo, atribuindo-lhe uma parcela significativa de responsabilidade pelo adoecimento neurótico –, Reich defenderá a realização de um amplo trabalho de prevenção de neuroses. Esse projeto envolverá a denúncia e propostas de transformação da ordem social capitalista que, de acordo com Reich, reproduzia a moral sexual repressiva – por meio da família autoritária –, com o intuito de desenvolver sujeitos psiquicamente frágeis e subservientes. Nessa perspectiva, Reich produzirá uma singular articulação entre psicanálise e marxismo – apresentada em Materialismo dialético e psicanálise (1977 [1929]) – e desenvolverá intensa atividade política em prol do que denominará revolução sexual2 .

Esses pontos de vista se chocavam frontalmente com os expressos por Freud em O mal-estar na civilização. Nessa obra, gestada ao longo dos debates sobre a questão da cultura, realizados mensalmente na casa de Freud – dos quais Reich participava, tendo apresentado suas idéias acerca da prevenção de neuroses em dezembro de 1929, logo após seu retorno da URSS –, Freud (1996 [1930]) sustenta a existência de um antagonismo irremediável entre as exigências pulsionais e as restrições da civilização e assume uma postura cética frente às propostas de transformação social preconizadas pelo grupo de psicanalistas marxistas (a denominada “esquerda freudiana”), do qual Reich era um dos expoentes (Wagner, 1996).

A ascensão de Hitler ao poder, na Alemanha, tornará insustentável a permanência de Reich no movimento psicanalítico, o qual buscará manter uma atitude de neutralidade em relação ao nazismo (Wagner, 1996). Reich, exilado, escreverá Psicologia de massas do fascismo (1988 [1933b]), brilhante obra de psicologia política – o calor da batalha não impediu a lucidez penetrante das análises –, na qual desmonta as teses economicistas do Partido Comunista, apontando os elementos psíquicos que fizeram com que o povo alemão se jogasse aos pés do Führer no momento de sua maior crise. Essa publicação custar-lhe-á a expulsão do Partido Comunista Alemão, pelo “desvio” citado, a exclusão dos quadros da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), em 1934, e uma perseguição sem trégua: após fugir da Alemanha, Reich não encontrou asilo na Áustria, peregrinou pelos países nórdicos sem conseguir estabelecer-se em definitivo e, nos Estados Unidos – para onde migrou em 1939 –, tornou-se alvo da “caça às bruxas” realizada pelo anticomunismo macartista do pós-guerra.

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Concluindo, penso que a importância de Wilhelm Reich na história da psicanálise consiste em ter resgatado o potencial crítico, disruptivo, da teoria freudiana da libido (Higgins e Raphael, 1979), em um momento em que o movimento psicanalítico procurava desvencilhar-se do inconveniente tema da sexualidade – fato assinalado por Freud no prefácio à 4ª edição dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade –, tendendo cada vez mais em direção a uma psicologia do ego adaptacionista em relação à sociedade vigente. Por outro lado, o desenvolvimento posterior do trabalho de Wilhelm Reich, realizado para além dos marcos teóricos e institucionais do movimento psicanalítico – e cuja análise extrapola o objetivo deste artigo – carregará, em seu ventre, as teorizações produzidas no interior da estrutura conceitual da psicanálise, sob a denominação de teoria da economia sexual. Com este termo, Reich reitera a importância que atribui aos aspectos econômicos da metapsicologia freudiana – e à teoria da libido, em particular – revelando, onde procura assinalar os pontos de ruptura de seu trabalho em relação à psicanálise, as linhas de continuidade que seu pensamento mantém com a matriz teórica onde se forjou.



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  Endereço para correspondência 
Amadeu de Oliveira Weinmann 
Av. Montenegro, 186/602 - Petrópolis 
90460-160 Porto Alegre - RS 
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E-mail: amadeu@ez-poa.com.br

Recebido em 09/04/01 
Aprovado em 20/10/01





* Psicólogo (CRP: 07/09371), formado em História e especialista em Atendimento Clínico (ênfase em psicanálise) pela Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS; psicoterapeuta reichiano, presidente da Sociedade Wilhelm Reich/RS. 
1 É importante ressaltar que as teorizações de Reich desenvolvem-se no marco conceitual da teoria psicanalítica das neuroses. 
2 O movimento da SEXPOL (Associação Alemã para uma Política Sexual Proletária), fundado por Reich em 1931 e vinculado ao Partido Comunista Alemão (Reich se mudara para Berlim, em 1930), chegará a contar com 40.000 associados em toda a Alemanha.


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WEINMANN, Amadeu de Oliveira. Uma contribuição à história do movimento psicanalítico: a trajetória de Wilhelm Reich. Psicol. cienc. prof.,  Brasília ,  v. 22, n. 3, p. 14-19,  Sept.  2002 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932002000300004&lng=en&nrm=iso>. access on  11  Feb.  2017.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000300004.